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Claúdio Salles

Claúdio Salles

Nota em homenagem a Gláucio Ary Dillon Soares: uma perda, um legado

 

 

Mais uma triste notícia nesse contexto atual já tão difícil.   

Infelizmente, o professor e sociólogo Gláucio Ary Dillon Soares faleceu nesta segunda-feira (14/06), aos 86 anos. Internado desde 29 de maio, por muitos fatores que fragilizavam sua saúde. Sempre muito forte, lutava contra um câncer agressivo diagnosticado há pouco mais de 25 anos. Em 2018 sofreu um AVC. E foi acometido pela COVID-19 há pouco tempo, fato que o levou para internação.

Foi um grande professor e motivador não só na minha caminhada acadêmica, mas de vários outros colegas do campo acadêmico, incluindo as dezenas de seus orientandos, colegas de profissão e leitores dos seus trabalhos, no Brasil e no exterior. Nossa convivência, para além dos muros da universidade, se deu com muitos encontros em sua casa e no “bar escritório” - apelido que dávamos a uma pizzaria que ficava quase ao lado da instituição que ele lecionava, o Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ) - sempre fazendo da sua orientação um encontro quase familiar.

Tive a honra de ser o último orientando dele, no mestrado e no doutorado em sociologia no IESP/UERJ. A análise de fluxo de crimes, dialogando a sociologia e antropologia, foi um grande ensino e estímulo dele. Algo bem incomum e ímpar       que gerou uma parceria entre Gláucio, eu e o professor, e antropólogo, Roberto Kant de Lima, da Universidade Federal Fluminense, me proporcionando um diálogo interdisciplinar e interinstitucional. Isso foi de suma importância para mim, para descontruir a normatividade e ensino doutrinário da minha formação original em Direito, permitindo-me enxergar o campo jurídico como um fenômeno social.

E dessa parceria foi possível produzir trabalhos empíricos que permitiram – e permitem – analisar o funcionamento das instituições policiais e judiciais na administração de conflitos de crimes, problematizando a forma de categorização e organização dos registros institucionais em forma de dados informatizados, a exemplo do que faz o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para fins de construção de seus relatórios anuais intitulados “Relatório Justiça em Números”. Tais registros explicitam, por exemplo, uma lógica corporativa de gestão dos processos judiciais, construindo-se números publicizados de interesse puramente interno, corporativo. Seus índices, tais como taxas de congestionamento processual, indicadores de produtividade dos magistrados e indicadores de produtividade dos servidores da área judiciária ainda possuem poucos detalhes de diagnóstico, avaliando apenas o movimento quantitativo de processos judiciais, o número de funcionários e orçamento dos fóruns e tribunais em cada Estado, por ano, sem considerar os tipos de demanda, as formas de administração dos conflitos, o perfil das partes conflitantes e demais possibilidades de registro de micro dados. As metas corporativas quantitativas se sobressaem sobre todos os outros aspectos.

As contribuições dessa nossa parceria foram muito profícuas nesse sentido, em analisar como os registros - e os não registros, percebidos unicamente por meio de pesquisa etnográfica - quantificados pelas instituições judiciais podem revelar mais sobre suas próprias práticas internas do que sobre os fatos sociais os quais essas instituições pretendem classificar, codificar e quantificar. Tais questões ainda são fortes empecilhos para a elaboração de categorias, teorias e conceitos próprios para o contexto brasileiro. Ainda pensamos “o Brasil a partir de conceitos e categorias criados para descrever fenômenos de países industriais; não pensamos a partir de conceitos elaborados para descrever fenômenos do Brasil”. “A isso eu chamo de colonialismo teórico”, desdobrando-se em um verdadeiro “calcanhar metodológico” entre nós, como já escreveu e sempre alertava Gláucio.

É difícil enumerar e resumir todas as contribuições de Gláucio Soares para a ciência social brasileira. Seus inúmeros escritos e pesquisas perpassam desde o papel das elites nas transições democráticas, a análise das determinantes dos suicídios, até a análise de fluxo de homicídios dolosos no Brasil e em perspectiva comparada, dentre várias outras análises na Criminologia e na Sociologia Política, atuando principalmente nos temas da violência, homicídios, democracia e regimes ditatoriais.

Há incontáveis publicações paradigmáticas - em artigos, livros publicados e organizados, inclusive com importantes parcerias em coautoria - tanto para a sociologia quanto para a ciência política brasileira, como, por exemplo: “O charme discreto do socialismo moreno”; “Dois Lulas: a geografia eleitoral da reeleição”; “21 anos de autoritarismo”; “A democracia interrompida”; “O calcanhar metodológico da ciência política no Brasil”; “A criminologia e as desventura do jovem dado”; “As vítimas ocultas da violência no Rio de Janeiro”; entre muitos outros.

Particularmente, o livro “Não Matarás: desenvolvimento, desigualdade e homicídios” foi marcante para mim. Nessa obra, Gláucio reúne suas pesquisas e reflexões realizadas ao longo de 40 anos de trajetória acadêmica sobre análise de fluxo e determinantes das mortes violentas. A influência dessa publicação é notória em minha caminhada e produção acadêmica em que analisei o fluxo dos acordos ao longo das etapas da conciliação, transação penal e Audiência de Instrução e Julgamento no Juizado Especial Criminal, em minha dissertação de mestrado que defendi em 2014 (com publicação posterior em livro, em 2017); e na análise de fluxo e das determinantes para a investigação de homicídios dolosos ao longo das etapas do registro de ocorrência policial, da instauração do inquérito policial, da denúncia do Ministério Público, da primeira e da segunda fase do Tribunal do Júri, na minha tese de doutorado, defendida em 2018.   

Para um pouco além da vida acadêmica, vale mencionar que Gláucio mantinha um blog, há muitos anos, como um diário público de suas inquietações, lutas, conquistas, reflexões e percalços não só contra o câncer como também perante adversidades do cotidiano, sempre com a reflexão de um exímio cientista social, mas com a sensibilidade de escrita de um poeta, com uma escrita lírica e compreensível a todos. A última atualização do blog foi em 23 de junho de 2020. É emocionante, revigorante e vale a pena ser lido: https://vivaavida.wordpress.com . Impressiona a quantidade de visualizações que há nesse blog e como pessoas foram impactadas positivamente por esses escritos.

Teremos que seguir em frente com mais esta perda, neste momento duro. Perdemos um grande mestre, cientista social e pessoa querida. Mas com um grande legado para muitos.

 

 

Michel Lobo Toledo Lima.

Sociólogo. Doutor e mestre em sociologia pelo IESP/UERJ. Pesquisador do INCT-InEAC. Professor visitante e pesquisador de pós-doutorado FAPERJ nota 10 no PPGD/UVA.

 

 

Em nome do Ineac, venho expressar nossos sinceros sentimentos de pesar aos familiares e ao IESP/UERJ pelo falecimento de nosso colega Professor Glaucio Soares. O Professor Glaucio sempre se destacou pela generosidade e disponibilidade diante de novas perspectivas metodológicas. Por isso, convivemos com ele e com seus alunos, que se iniciavam em nossa área de pesquisa e reflexão mútua, em longa e profícua colaboração, que hoje está entre nós muito adequadamente representada na pessoa de nosso colega Michel Lobo. 
Roberto Kant de Lima
Coordenador do INCT-InEAC
O VIII Seminário Internacional do Ineac vai começar na segunda-feira, 07/06, e é aberto a todas e todos. As mesas e as rodas de conversas serão transmitidas ao vivo pelo YouTube. Por outro lado, os GTs não terão transmissão ao vivo e os inscritos deverão acessar a plataforma Zoom. Os links estarão disponíveis na área dos inscritos no site www.seminariodoineac.com.br.
Reforçamos que é imprescindível que todos estejam inscritos para que possam assistir aos GTS, participar das rodas de conversa e receber os certificados.
Comissão Organizadora
 

O deputado Federal David Miranda (PSOL) promove em sua Rede Social a mesa "Quando a intolerância revela o racismo".
A Live contará com as participações da Profa. Ana Paula, da UFF/INCT-INEAC  e do prof. Ilzver de Matos, da PUC-PR.

Nessa segunda-feira, dia 31 de maio, às 15h, com transmissão pelo zoom e pelo facebook do deputado David Miranda.

Confira o cartaz abaixo:

 

 

Sexta, 28 Maio 2021 23:14

ROBERTA CORREA PRESENTE !

O Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos (INCT-InEAC) comunica que uma de suas jovens e mais promissoras pesquisadoras, Dra. Roberta Correa, faleceu vítima de Covid-19 esta noite. A Dra. Roberta era uma estrela ascendente no estudo das Religiões Afro-Brasileiras, tendo realizado sua tese de doutorado no PPGa da UFF. Em nome do comitê gestor do InEAC, lamentamos profundamente o ocorrido e nos unimos aos colegas, amigos e familiares no luto por essa perda irreparável, que se junta às outras inúmeras provocadas pelo descaso do governo federal na gestão da saúde pública brasileira.
 
Roberto Kant de Lima
Coordenador
 

CPI da Alerj discute intolerância religiosa no estado

 

Instalada no dia 18/5, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) de Combate à Intolerância Religiosa, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), realizou nesta terça-feira (25/5) sua primeira audiência pública. Participaram do debate as pesquisadoras do Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos (INEAC/UFF) Ana Paula Miranda e Lana Lage.

Iniciando o debate, Ana Paula Miranda ressaltou a importância da CPI e traçou desafios.

“Essa ação é um primeiro passo, inovador. O Poder Público ainda patina nas respostas ao problema. Esse é o principal desafio desta CPI, que tem que estar atenta ao modo de atendimento às minorias, tanto nas delegacias quanto no poder Judiciário. Temos que pensar em um modo de escutar as vítimas que não cause revitimização. O que está em jogo é a negação a um modo de vida”, declarou.

Presidente da CPI, a deputada Martha Rocha (PDT) comentou a atuação de policiais nos casos de intolerância religiosa. "Eu já chefiei a Polícia Civil e sei das dificuldades. Os policiais não vêm de Marte ou de Vênus, o planeta do amor. Eles são fruto de uma sociedade intolerante", lamentou.

A professora Lana Lage falou sobre a formação histórica da polícia no país e seus reflexos na intolerância religiosa.

 "No Brasil, o Estado precedeu a nação. O Estado veio da côrte, da metrópole. A forma como a guarda nacional foi criada, surgindo como agente protetora do Estado, não da população, tem seus efeitos. A polícia está sempre a favor do Estado, e muitas vezes age como se a população fosse o inimigo", ponderou.
 Para a deputada Mônica Francisco (PSol), a questão transcende os casos de intolerância religiosa.
 
"As questões não são tão simplistas como parecem, em primeiro plano. Estamos diante de uma atualização, a partir de setores da sociedade que encontraram no Brasil um terreno propício, que quer reforçar o racismo no país. Estamos aqui, no país, diante de racismo religioso, não de intolerância, que é só um elemento presente nesse contexto", considerou.

Lana Lage concordou com a afirmação da deputada Mônica Francisco, apontando razões históricas para o racismo religioso.  

"Como pesquisadora, já escutei muitas falas que vinculam a agressão religiosa ao racismo, pois são religiões que vieram de África. O conceito de racismo religioso é um conceito esclarecedor", frisou.

 Obstáculo ao tráfico e à milícia

Ana Paula Miranda falou sobre o incômodo causado por terreiros de candomblé e de umbanda a traficantes e milicianos.

"Para explicar de uma forma didática, os terreiros funcionam como uma emergência de hospital. Eles têm um fluxo de pessoas muito diferente de uma igreja local. Há sempre gente chegando. Essa circulação de carros e gente desconhecida, nesses locais sob domínio de agentes armados, incomoda. Alguns terreiros foram expulsos e viraram ponto de venda de droga, outros foram destinados à especulação imobiliária", criticou.

 
 

Fonte: Alerj

 
 
 

A Associação Brasileira de Antropologia (ABA) realiza, no próximo dia 27 de maio,de 2021,  debate sobre os impactos da pandemia no trabalho de campo e discussão sobre o uso de ferramentas digitais no fazer etnográfico .  O Webinário conta com a participação de Jean Segata (UFRGS), coordenador da Rede Covid-19 Humanidades MCTI, Laura Graziela Gomes (UFF/INCT - INEAC), Letícia Cesarino (UFSC) e Eliane Tânia Freitas (UFRN), com a mediação de Ramon Reis e organização de Carolina Parreiras.

O webiníario  " Fazer etnográfico, ambientes digitais e tecnologias" acontece na quinta-feira, dia 27 de maio, às 16h, no canal do Youtube da TV Aba.

Link do evento: https://www.youtube.com/watch?v=Hyn4ojtZaPs 

 


O coordenador do INCT/INEAC, Roberto Kant de Lima, é o convidado da PPGS da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) para aula inaugural "Desafios das ciências sociais no contexto atual", que acontecerá nessa quinta-feira,  27 de maio de 2021.

Além da participação como palestrante do Prof. Dr. Roberto Kant de Lima, também participarão o Prof. Dr Márcio Mucedula Aguiar (Coordenador do PPGS/UFGD) e o Prof. Dr. Marcelo Campos (UFGD/Pesquisador INCT/InEAC).

A atividade será online às 19:00 horas, horário de MS e 20:00h no horário de Brasília. O LEMI - Laboratório de Estudos Multimídias do INCT/INEAC transmitirá o evento. Para assistir acesse o canal do INCT INEAC ou o canal do Lamics.

As inscrições podem ser realizadas através do link: Inscrições: https://www.even3.com.br/ppgsufgd (Certificação de 2 h/a)

 Acompanhe o Lamics no instagram @capivarasociologica!

 

Na quarta-feira, dia 25 de maio, de 2021,  a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) realiza reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar casos de intolerância religiosa no estado do Rio de Janeiro. A Comissão, presidida pela Deputa Estadual Martha Rocha (PDT) conta com a deputada Tia Ju (REP) para vice-presidente, além do deputado Átila Nunes (MDB) como relator e ainda a participação dos deputados Waldeck Carneiro (PT), Carlos Minc (PSB), Noel de Carvalho (PSDB), e pelas deputadas Dani Monteiro (Psol), Renata Souza (Psol), Monica Francisco (Psol) e Adriana Balthazar (NOVO). A antropóloga Ana Paula Mendes de Miranda e a historiadora Lana Lage, ambas pesquisadoras do INCT/INEAC foram convidadas para participarem do encontro.

Entre 2015 a 2019 foram registrados pela Polícia Civil cerca de 6.700 crimes por esse tipo de atitude. Em 2020, verificou-se 1.355 casos, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP.)

A Revista Antropolítica lança nessa segunda-feira, dia 24 de maio, de 2021, às 20h, o dossiê "Direito em Perspectiva Empírica: Práticas, Saberes e Moralidades" . Para assistir acesse o canal do INCT/INEAC no youtube: https://www.youtube.com/watch?v=sBhXm-CEub4
 
 
 
(1) AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA E VIOLÊNCIA POLICIAL: ANÁLISE DO ENCAMINHAMENTO DAS DENÚNCIAS EM DUAS GESTÕES NA CIDADE DE SÃO PAULO Giane Silvestre, Maria Gorete Marques de Jesus, Ana Luiza Villela de Viana Bandeira - ANA LUÍZA E GORETE CONFIRMARAM
 
(2)  OS MODELÕES E A MERA FORMALIDADE: PRODUÇÃO DE DECISÕES E SENTENÇAS EM UMA VARA CRIMINAL DA BAIXADA FLUMINENSE DO RIO DE JANEIRO - Marilha Gabriela Reverendo Garau
 
(3) MORALIDADES EM JOGO NO JULGAMENTO DE MULHERES ACUSADAS DA MORTE OU TENTATIVA DE MORTE DE SEUS/SUAS RECÉM-NASCIDOS/AS - Bruna Angotti 
 
(4) ENTRE JUSTAPOSIÇÕES E CONTRAPOSIÇÕES: INSTRUMENTOS JURÍDICOS, DISCURSOS E PRÁTICAS EM TORNO DA ADMINISTRAÇÃO DE HOMENS AUTORES DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER - Paulo Victor Leite Lopes 
 
(5) ENTRE DOCUMENTOS, INQUIRIÇÕES E INSPEÇÕES: A TRAMA DA PRODUÇÃO DE PROVAS EM PROCESSOS DE APOSENTADORIA RURAL NOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS - Jordi Othon Angelo e Luís Roberto Cardoso de Oliveira 
 
(6) DO ACESSO AO SEGREDO AO (DES)ACESSO À JUSTIÇA: ALIENAÇÃO PARENTAL ENTRE MORALIDADES E TÉCNICAS EM DISPUTA - Rafaella Rodrigues Malta e Camila Silva Nicácio 
 
Outras informações confira no cartaz abaixo.
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